Apesar
de, logo a seguir à indicação "Acto Primeiro", podermos ler
"Câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século dezassete",
de facto, a acção desenrola-se no último ano do séc. XVI. Com efeito, Garrett
assume, na Memória ao
Conservatório Real, lida a 6 de Maio de 1843, que os aspectos cronológicos
não o preocuparam, pois considerou mais importante "o trabalho de
imaginação", irreconciliável com os "algarismos das datas".
Referências
cronológicas que surgem na obra:
· período anterior a 1578 - casamento de D. Madalena com D. João de
Portugal
· 4 de Agosto de 1578 - batalha de Alcácer Quibir; desaparecimento de D.
João de Portugal (assim como do rei D. Sebastião)
· de 1578 a 1585 (7 anos) - durante este período, D. Madalena faz todos os
esforços, no sentido de saber notícias de D. João de Portugal, sem, contudo,
obter qualquer resultado
· 1585 - D. Madalena casa com Manuel de Sousa Coutinho, por quem se
apaixonara ainda durante o seu primeiro casamento
· 1586 - da união de Manuel de Sousa Coutinho e de D. Madalena nasce Maria
(que tem treze anos à data do início da acção)
· 1599 (catorze anos após o casamento de Manuel de Sousa Coutinho e de D.
Madalena) - ano em que decorre a acção
O período
que permeia entre o desaparecimento de D. João de Portugal, em 1578, e o
momento em que se desenrola a acção é constituído por vinte e um anos, o que
significa que a tragédia apresentada é vivida em 1599.
A acção desenrola-se em pouco mais de
uma semana, o que lhe confere uma certa unidade, sobretudo porque há um
período de oito dias que é apresentado em elipse. Ainda neste domínio, Garrett
preferiu renunciar às regras rígidas da tragédia e adoptar uma atitude de
liberdade preconizada pelos escritores românticos. O que interessava ao
dramaturgo era proceder à condensação do tempo da acção, de modo a que essa se
constituísse como um factor trágico. Contudo, aquilo que marcará a transição do
mundo profano para o mundo religioso, a tomada de hábito, terá lugar ao nono dia, evocando-se a simbologia do
número nove, que significa o nascimento para uma nova vida, a passagem a outro
estádio da existência.
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