sábado, 18 de janeiro de 2014

O tempo dramático:

Apesar de, logo a seguir à indicação "Acto Primeiro", podermos ler "Câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século dezassete", de facto, a acção desenrola-se no último ano do séc. XVI. Com efeito, Garrett assume, na Memória ao Conservatório Real, lida a 6 de Maio de 1843, que os aspectos cronológicos não o preocuparam, pois considerou mais importante "o trabalho de imaginação", irreconciliável com os "algarismos das datas".
 Referências cronológicas que surgem na obra:
·         período anterior a 1578 - casamento de D. Madalena com D. João de Portugal
·         4 de Agosto de 1578 - batalha de Alcácer Quibir; desaparecimento de D. João de Portugal (assim como do rei D. Sebastião)
·         de 1578 a 1585 (7 anos) - durante este período, D. Madalena faz todos os esforços, no sentido de saber notícias de D. João de Portugal, sem, contudo, obter qualquer resultado
·         1585 - D. Madalena casa com Manuel de Sousa Coutinho, por quem se apaixonara ainda durante o seu primeiro casamento
·         1586 - da união de Manuel de Sousa Coutinho e de D. Madalena nasce Maria (que tem treze anos à data do início da acção)
·         1599 (catorze anos após o casamento de Manuel de Sousa Coutinho e de D. Madalena) - ano em que decorre a acção
 O período que permeia entre o desaparecimento de D. João de Portugal, em 1578, e o momento em que se desenrola a acção é constituído por vinte e um anos, o que significa que a tragédia apresentada é vivida em 1599.

A acção desenrola-se em pouco mais de uma semana, o que lhe confere uma certa unidade, sobretudo porque há um período de oito dias que é apresentado em elipse. Ainda neste domínio, Garrett preferiu renunciar às regras rígidas da tragédia e adoptar uma atitude de liberdade preconizada pelos escritores românticos. O que interessava ao dramaturgo era proceder à condensação do tempo da acção, de modo a que essa se constituísse como um factor trágico. Contudo, aquilo que marcará a transição do mundo profano para o mundo religioso, a tomada de hábito, terá lugar ao nono dia, evocando-se a simbologia do número nove, que significa o nascimento para uma nova vida, a passagem a outro estádio da existência.

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