terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Almeida Garrett : Vida e Obra

João Batista da Silva Leitão de Almeida nasceu no Porto em 1799 e faleceu em Lisboa em 1854.

O apelido irlandês está na genealogia da família, Garrett é o nome da sua avó paterna, que veio para Portugal no séquito de uma princesa.

A obra “ frei luís de Sousa” concentra-se no período da vida de Manuel de Sousa Coutinho imediatamente antes do seu ingresso, juntamente com a esposa D. Madalena de Vilhena, na vida monástica: um seu biógrafo atribuiu essa decisão ao facto de o primeiro marido de D. Madalena, D. João de Portugal, tido por morto na Batalha de Alcácer Quibir, estar ainda vivo e ter regressado a Portugal, tornando ilegítimo o casamento de D. Manuel e bastardos seus filhos.

Garrett acentua o carácter dramático desta situação, dando ao casal uma única filha adolescente, Maria de Noronha, e um aio ainda dedicado à figura do seu velho amo, D. João de Portugal.

O desfecho trágico é desencadeado pelo nacionalismo de Manuel de Sousa Coutinho, que prefere pôr fogo ao seu palácio a nele acolher os representantes da opressão espanhola e se vê forçado a tomar residência no antigo paço que fora de D. João de Portugal; este regressa ao antigo lar, disfarçado de romeiro, e confirma as apreensões de D. Madalena ao se identificar com o retrato de D. João.

Os esposos adúlteros, falecida a filha, decidem ingressar na vida religiosa.


segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Cronologia da vida de Almeida Garrett

1799 – Almeida Garrett nasce no Porto.
1809 – Parte para a ilha Terceira por causa das invasões francesas. Aí recebe de um tio, bispo de Angra do Heroísmo, uma educação religiosa e clássica.
1816 – Matricula-se no curso de Direito em Coimbra. Adere às ideias liberais e começa a escrever algumas peças de teatro.
1820 – Escreve a tragédia Catão, representada em Lisboa no ano seguinte.
1821 – Já formado, casa com Luísa Midosi e publica o Retrato de Vénus, que lhe valeu um processo judicial e um julgamento de que foi absolvido.
1823 – Com a Vila-Francada, exila-se em Inglaterra, onde contacta com a literatura romântica (Byron e Walter Scott).
1824 – Parte para o Havre, em França, como correspondente.
1825 – Publica em Paris Camões.
1826 – Publica ainda em Paris D. Branca.Regressa a Portugal após a outorga da Carta Constitucional, dedicando-se ao jornalismo político.
1828 – Exila-se de novo em Inglaterra devido à aclamação de D. Miguel.
1830 – Inicia a compilação do Romanceiro.
1832 – Integra-se no exército liberal de D. Pedro IV, desembarca no Mindelo e participa no cerco do Porto, escrevendo aí a primeira pare do Arco de Santana.
1834 – Após a guerra civil, Almeida Garrett é nomeado cônsul geral em Bruxelas. Estuda a língua e a literatura alemãs (Herder, Schiller e Goethe).
1836 – Regressa a Portugal e separa-se de Luísa Midosi, que em Bruxelas o teria traído. Passos Manuel encarrega-o de reorganizar o teatro nacional, nomeando-o inspector dos teatros.
1837 – Perde o cargo de inspector dos teatros por demissão de Passos Manuel. Apaixona-se por Adelaide Deville, que morrerá em 1841 e de quem terá uma filha, Maria Adelaide.
1838 – Publica Um Auto de Gil Vicente.
1841 – Publica O Alfageme de Santarém.
1842 – Costa Cabral instaura um governo de ditadura, contra o qual Garrett luta na oposição parlamentar.
1843 – Escreve o drama Frei Luís de Sousa que será publicado no ano seguinte. Começa também a escrever o romance Viagens na Minha Terra, que publica em folhetins na Revista Universal Lisbonense.
1845 – Publica o romance Arco de Santana e a colectânea de poemas Flores sem Fruto. Inicia-se a paixão por Rosa Montufar, a Viscondessa da Luz.
1846 – É publicado em dois volumes o romance Viagens na Minha Terra.
1850 – É representado no Teatro Nacional o drama Frei Luís de Sousa.
1851 – É nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros e recebe o título de Visconde e Par do reino. Conclui a compilação do Romanceiro.
1853 – Publica Folhas Caídas, colectânea poética que causou escândalo na época.
1854 – Almeida Garrett morre a 9 de Dezembro em Lisboa.

Nome dos elementos:Fedrerico Galo, João Mateus, Joel Gil, João Gaspar, André Pereira

domingo, 26 de janeiro de 2014

Frei Luís de Sousa

Frei Luís de Sousa (Manuel de Sousa Coutinho) foi um escritor e sacerdote português, natural de Santarém. 
Mudou de nome ao ingressar na vida religiosa, em 1613, como era prática usual nas ordens religiosas.
Foi nomeado cavaleiro da ordem de Malta por volta de 1572, tendo estado cativo em Argel e viajado pelo Oriente e pelas Américas.
Esteve ao serviço de Filipe II e casou com D. Madalena de Vilhena, mulher de D. João de Portugal, que desaparecera na batalha de Alcácer Quibir. Em 1559, havia sido nomeado capitão-mor de Almada.
Nesse mesmo ano, destruiu o seu palácio pelo fogo, não permitindo assim que os governadores do reino, fugindo à peste de Lisboa, nele se refugiassem.

Em 1613, Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena de Vilhena decidiram professar, ele no convento de São Domingos, em Benfica, e ela no convento do Sacramento.


Um biógrafo atribuiu esta decisão à notícia de que D. João de Portugal se encontrava, afinal, vivo, tornando ilegítima a união do casal.
Escreveu vários livros, destacando-se a Vida de Frei Bartolomeu dos Mártires e História de São Domingos.
Foi na vida "misteriosa" deste homem que Almeida Garrett se inspirou para escrever o Frei Luís de Sousa.


sábado, 25 de janeiro de 2014

A Batalha de Alcácer Quibir

A Batalha de Alcácer Quibir foi travada entre portugueses e marroquinos a 4 de Agosto de 1578 próximo da antiga cidade de Alcácer Quibir em Marrocos. O objetivo da batalha era a conquista desta cidade que era na altura a principal base de ataque dos mouros contra as praças portuguesas de Arzila e Tânger.

A derrota portuguesa na batalha e o desaparecimento do rei D. Sebastião tiveram graves consequências para Portugal. Por um lado foram pedidos resgastes extremamente elevados para libertação de prisioneiros com graves prejuízos económicos para o país. Por outro lado o desaparecimento de D. Sebastião sem que ficasse assegurada a sua sucessão originou uma crise dinástica e que levou à tomada do trono português por Filipe II de Espanha (D. Filipe I de Portugal) em 1580.


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Estrutura Externa e Estrutura Interna

Estrutura Externa
  • Primeiro ato 12 cenas.
  • Segundo ato 15 cenas.
  • Terceiro ato 12 cenas.

Estrutura Interna

  • Exposição/prólogo (acto I, cenas 1 e 2) - apresentação das personagens e do conflito latente.
  • Conflito.
  • Desenlace (acto III, cenas 10 a 12) - aniquilamento das personagens.
Ato I
Cenas I - IV - Informações sobre o passado das personagens.

Cenas V - VIII - Preparação da acção, decisão dos governadores e decisão de incendiar o palácio.

Cenas IX - XII - Acção, incêndio do palácio.

Ato II

Cenas I - III - Informações sobre o que se passou depois do incêndio.

Cenas IV - VIII - Preparação da acção: ida de Manuel de Sousa Coutinho a Lisboa.

Cenas IX - XVAcção: chegada do Romeiro.

Ato III

Cena I - Informações sobre a solução adoptada.
Cenas II - IX - Preparação do desenlace.
Cenas X - XIII - Desenlace.


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O Romantismo

O Romantismo foi um movimento artístico que surgiu no final do século XVIII e teve como principais características a criatividade ilimitada e a imaginação individual de cada um dos indivíduos. O movimento foi dividido em três grandes fases, onde a ultima foi considerada um fase de transição deste movimento. Este movimento procurou dar ênfase ás emoções humanas, ao sentimento de cada um dos pintores e à força da natureza, como nas obras de William Turner, que reflecte a fúria do oceano e de outros fenómenos.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Principais características românticas


Retrata uma época de reacção do povo português ao domínio dos Filipes;

• Crença no sebastianismo;
• Crença em agouros, dias aziagos, superstições;
• Maria é uma figura romântica até à medula, pela sua sensibilidade doentia e pela sua imaginação aguçada pela tuberculose (doença romântica), deixando-se levar por visões e pelos sonhos;
• A morte em cena desta mesma personagem, não sem antes se insurgir acaloradamente contra a lei do matrimónio, uno e indissolúvel, que forçava os pais à separação e lhos roubava;
• O heroísmo de Manuel de Sousa Coutinho ao incendiar a sua casa;
• O aparecimento da religião como consoladora de infelizes;
• O uso da prosa;
• A divisão em três atos;
• O desrespeito pelas unidades de tempo e de espaço.
Principais características clássicas e trágicas:
• Personagens aristocráticas e em número reduzido;
• Existência do Pathos (= sofrimento), que atinge as personagens e que vai progressivamente aumentando, até atingir um clímax irresistível e fatalista;
• O Ethos, pois o herói, revoltando-se, revela o seu carácter (ethos), adquirindo uma estatura superior;
• Existência da hybris (= desafio), aquando, por exemplo, do casamento de Madalena (que ainda não tinha a certeza absoluta do seu estado livre e que, mais grave, já amava Manuel de Sousa Coutinho quando vivia com o seu primeiro marido...) e do incêndio provocado por Manuel de Sousa – desafios às instituições e às prepotências humanas;
• A presença do Ágon, que corresponde à luta ou ao conflito travados pelas personagens, lançados que foram os desafios às instituições e à arbitrariedade humana;
• Uma anankê (= destino, fatalidade), em latim fatum, o qual atinge inexoravelmente uma família que, pressente-se logo de início, irá ser desonrada e liquidada sem piedade;
• A sensação de impotência, dado que os protagonistas não podem lutar contra essa fatalidade, limitando-se a aguardar, incapazes e cheios de ansiedade, o desfecho que se afigura cada vez mais funesto;
• A anagnórisis ou anagnórise ou ainda agnorisis (= reconhecimento), com o reconhecimento ou identificação do Romeiro.
• A Katastrophé (catástrofe), que marca o desenlace fatal em que se consuma a destruição das personagens – morte física de Maria; morte para o mundo material ou secular de Madalena e de Manuel; morte psicológica do romeiro….

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Acção dramática

Frei Luís de Sousa conta o drama que se abate sobre a família de Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena de Vilhena. As apreensões e pressentimentos de Madalena de que a paz e a felicidade familiar possam estar em perigo tornam-se gradualmente numa realidade. 
O incêndio no final do Acto I permite uma mutação dos acontecimentos e precipita a tensão dramática. E no palácio que fora de D. João de Portugal, a acção atinge o seu clímax, quer pelas recordações de imagens e de vivências, quer pela possibilidade que dá ao Romeiro de reconhecer a sua antiga casa e de se identificar a Frei Jorge.
O Acto I inicia-se com Madalena a repetir os versos d'Os Lusíadas:

"Naquele engano d'alma ledo e cego,

que a fortuna não deixa durar muito…"

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Espaço cénico:

Espaço cénico:   
                                                         
Ato I:  palácio de d.manuel de sousa Coutinho
Ato II:  palácio de d.joao de Portugal
Ato III:  palácio de d.joao de Portugal- parte baixa



ESPAÇO DRAMÁTICO: 


Mais amplo que o espaço cénico, engloba as referências espaciais feitas ao longo de toda a peça: Ásia – Palestina > África - Alcácer Quibir> Europa – Portugal > Lisboa > Almada > Palácio de D. Manuel > Palácio de D. João de Portugal > parte mais baixa do mesmo Palácio > retrato de D. João de Portugal.




ESPAÇO SOCIAL:

 Domina o estatuto da nobreza, bem evidente na forma de falar, de agir e de pensar das personagens.


SIMBOLOGIAS LIGADAS AO ESPAÇO

O Palácio de D. Manuel de Sousa Coutinho estava ricamente decorado, era luxuoso, elegante, com grandes janelas viradas para o exterior, o que denotava uma felicidade aparente.

O Palácio de D. João de Portugal era mais austero, mais sombrio, pesado, melancólico, sugerindo já uma desgraça que inexoravelmente se abaterá sobre aquela família, ironicamente detentora de todas as condições para viver feliz.


A parte mais baixa do mesmo Palácio era um vasto salão sem ornatos nenhuns; era quase que um armazém de peças de cariz religioso. 

domingo, 19 de janeiro de 2014

A ação

A Ação da obra é desenvolvida de acordo com um esquema estrutural que se repete em cada ato.
Assim, encontramos três fases distintas, no desenrolar de cada ato:

-
um momento de exposição, em que são apresentados, através das falas das personagens, os acontecimentos passados que motivam a situação em que as mesmas se encontram
-
um momento de conflito, em que assistimos ao desenvolvimento da ação propriamente dita, através das vivências das personagens
-
o desenlace, o desfecho, originado pelos dois momentos anteriores.


Ação trágica:
Tal como nas tragédias antigas, a acção da peça desenvolve-se através de uma sequência de acções que culminam no desenlace trágico. Também aqui os homens são vítimas do Destino (se bem que, à maneira do drama romântico, as personagens sejam, igualmente, vítimas das suas decisões e das suas paixões; Maria, apesar de não apresentar possibilidade de escolha, é condenada não apenas pelo Destino, mas pela própria sociedade).
Ao longo da peça, encontramos indícios da tragédia que vitimará toda a família.
O facto de a obra apresentar uma estrutura que cumpre o esquema informação - acção - desenlace, sendo o primeiro momento referente a um tempo anterior ao da acção, permite-nos considerar Frei Luís de Sousa um drama analítico - os acontecimentos apresentados em palco são motivados por acções anteriores às que são visualizadas.
A simultaneidade das acções, quase no final de cada acto, confere aos momentos finais maior intensidade dramática. Assim:
-
no primeiro acto, o incêndio coincide com a chegada dos governadores espanhóis;
-
no segundo acto, a chegada do Romeiro tem lugar no momento em que Manuel de Sousa Coutinho, Maria, Telmo e alguns criados partem, para Lisboa;
-
no terceiro acto, a cerimónia de tomada de hábito de D. Madalena e Manuel coincide com a morte de Maria.
Nos dois primeiros actos, esta técnica permite o suspense e a expectativa em relação às acções posteriores; no terceiro acto, as acções simultâneas marcam o momento máximo da tragédia - o suicídio do casal para o mundo e a morte de uma vítima inocente, Maria.
Antes do final do terceiro acto, existem também acções que acentuam a motivação da expectativa: são os momentos de retardamento, que possibilitam a colocação da hipótese de que a tragédia não se efective. Destacam-se, neste âmbito:
-
o momento em que o Romeiro pede a Telmo que diga que ele é um impostor;
-
a recusa de D. Madalena em aceitar a separação do marido e a dissolução do casamento.

sábado, 18 de janeiro de 2014

O tempo dramático:

Apesar de, logo a seguir à indicação "Acto Primeiro", podermos ler "Câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século dezassete", de facto, a acção desenrola-se no último ano do séc. XVI. Com efeito, Garrett assume, na Memória ao Conservatório Real, lida a 6 de Maio de 1843, que os aspectos cronológicos não o preocuparam, pois considerou mais importante "o trabalho de imaginação", irreconciliável com os "algarismos das datas".
 Referências cronológicas que surgem na obra:
·         período anterior a 1578 - casamento de D. Madalena com D. João de Portugal
·         4 de Agosto de 1578 - batalha de Alcácer Quibir; desaparecimento de D. João de Portugal (assim como do rei D. Sebastião)
·         de 1578 a 1585 (7 anos) - durante este período, D. Madalena faz todos os esforços, no sentido de saber notícias de D. João de Portugal, sem, contudo, obter qualquer resultado
·         1585 - D. Madalena casa com Manuel de Sousa Coutinho, por quem se apaixonara ainda durante o seu primeiro casamento
·         1586 - da união de Manuel de Sousa Coutinho e de D. Madalena nasce Maria (que tem treze anos à data do início da acção)
·         1599 (catorze anos após o casamento de Manuel de Sousa Coutinho e de D. Madalena) - ano em que decorre a acção
 O período que permeia entre o desaparecimento de D. João de Portugal, em 1578, e o momento em que se desenrola a acção é constituído por vinte e um anos, o que significa que a tragédia apresentada é vivida em 1599.

A acção desenrola-se em pouco mais de uma semana, o que lhe confere uma certa unidade, sobretudo porque há um período de oito dias que é apresentado em elipse. Ainda neste domínio, Garrett preferiu renunciar às regras rígidas da tragédia e adoptar uma atitude de liberdade preconizada pelos escritores românticos. O que interessava ao dramaturgo era proceder à condensação do tempo da acção, de modo a que essa se constituísse como um factor trágico. Contudo, aquilo que marcará a transição do mundo profano para o mundo religioso, a tomada de hábito, terá lugar ao nono dia, evocando-se a simbologia do número nove, que significa o nascimento para uma nova vida, a passagem a outro estádio da existência.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Principais momentos que constituem o tempo dramático:

Ano - 1599 
 Meses - Julho - 28 "É no fim da tarde" (acto I)
Agosto - 4 (sexta-feira - acto II) - a acção desenrola-se oito dias após o incêndio do palácio de Manuel de Sousa Coutinho, durante o dia [Maria afirma: "Há oito dias que aqui estamos nesta casa(...)"] - (cena I)
- 5 "É alta noite" (actoIII) - A acção ocorre de madrugada (ao nono dia) - Manuel confessa: "Eu não sofro nestes hábitos a luz desse dia que vem a nascer" - (cena I)
Assim o tempo localiza-se entre os dias 28 de Julho e 5 de Agosto. Os dias 28 de Julho a 3 de Agosto são referidos por Maria como um tempo anterior ao início da acção apresentada no segundo acto. De 1 a 3 de Agosto, D. João apressa-se, de modo a poder chegar a sua casa no dia 4 do mesmo mês (fora libertado um ano antes - em 1598). Assistimos, assim, a um afunilamento do tempo dramático em Frei Luís de Sousa.
 É de notar o valor simbólico de que a sexta-feira se reveste: se o segundo acto ocorre no dia 4 de Agosto, a uma sexta-feira, é evidente que também a acção do primeiro acto tem lugar a uma sexta-feira (oito dias antes).
Este dia está conotado com a tragédia, remetendo para a feição popular subjacente à interpretação do seu significado em Portugal (lembremo-nos das condições atribuídas à sexta-feira 13). É, então, de reter que é a uma sexta-feira que ocorrem os seguintes acontecimentos:
·         dia do primeiro casamento de D. Madalena
·         Madalena vê Manuel de Sousa Coutinho pela primeira vez, apaixonando-se imediatamente por ele, apesar de ser casada com D. João de Portugal
·         Batalha de Alcácer Quibir (4 de Agosto de 1578); desaparecimento de D. João de Portugal e de D. Sebastião
·         Manuel de Sousa Coutinho incendeia a sua casa, motivando a mudança da família para o palácio de D. João
·         regresso de D. João na figura do Romeiro
É igualmente a reter a simbologia trágica conferida ao número sete e aos seus múltiplos:
·         D. Madalena procura saber notícias do seu primeiro marido durante sete anos, após os quais casa com Manuel de Sousa Coutinho
·         o casamento de D. Madalena e de Manuel de Sousa durava havia 14 anos (dois vezes sete)
·         D. João regressa a casa vinte e um anos após a batalha de Alcácer Quibir (três vezes sete)

O número sete corresponde ao número de dias que perfaz uma semana, ligando-se, tal como o número nove, à conclusão de um ciclo e ao início de outro. Assim, o sete relaciona-se com o final da vida do casal e, consequentemente, com a tragédia.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O tempo histórico :

São várias as referências que nos permitem a identificação do tempo histórico:
A referência à batalha de Alcácer Quibir
As desavenças entre portugueses e castelhanos, após a perda da independência nacional
O facto de haver peste em Lisboa
O sebastianismo (representado por Maria e Telmo)
As alusões feitas a Camões (feitas por Telmo) e a Bernardim Ribeiro (Maria, no início do acto segundo, cita a frase que abre a novela Menina e Moça deste escritor)

O tempo psicológico é aquele que é vivido pelas personagens de acordo com a sua própria interioridade. Na obra, ele é constituído na perspectiva de um factor de desgaste: à medida que o tempo passa, as personagens tornam-se cada vez mais frágeis e os seus receios e ansiedades aumentam, tornando-se o seu sofrimento cada vez maior e cada vez mais intensa a sua agonia perante o futuro.
A coincidência entre o tempo dramático e o tempo psicológico é conseguida, sobretudo, através das palavras de D. Madalena, ao referir o seu horror pela sexta-feira, sentimento que é enfatizado pela repetição do advérbio de tempo "hoje", que surge com a insígnia da desgraça, da fatalidade e da solidão irremediáveis.
Depois de observada a linha cronológica que concentra quer os momentos anteriores ao desenrolar da acção, quer aqueles que são apresentados em palco, verificamos que esta decorre apenas durante um dia, nos dois primeiros actos, e na madrugada de um outro dia, no terceiro acto.

A concentração dramática corresponde à aproximação progressiva do Romeiro e do consequente desenlace trágico.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

CARACTERÍSTICAS DAS PERSONAGENS EM FREI LUÍS DE SOUSA

Madalena de Vilhena
É uma heroína romântica, vive marcada por conflitos interiores e pelo passado. Os sentimentos e a sensibilidade sobrepõe-se à razão e é uma mulher em constante sofrimento. Crê em agoiros, superstições e dias fatais (a sexta-feira). É uma sofredora, tem um amor intenso e uma preocupação constante com a filha Maria, contudo coloca a cima de tudo a sua felicidade e amor ao lado de Manuel  de Sousa, mesmo o seu amor à pátria é menor do que o que sente por Manuel. No final da obra, aceita o convento como solução,  mas fá-lo seguindo Manuel (ele foi? Eu vou)

Manuel de Sousa Coutinho
É o típico herói clássico, dominado pela razão, que se orienta por valores universais, como a honra, a lealdade, a liberdade; é um patriota, um velho português às direitas, forte, corajoso e decidido (o incêndio), bom marido, pai terno, não sente ciúmes do passado e não crê em agoiros. O incêndio e a decisão
violenta de o concretizar é um traço romântico.
Contudo, esta personagem evolui de uma atitude interior de força e de coragem e segurança para um comportamento de medo, de dor, sofrimento, insegurança e piedosa mentira no acto III quando teme pela saúde da filha e pela sua condição social.
No final da obra, mostra-se tão decidido como noutros momentos: abandona tudo (bens, vida, mundo)e refugia-se no convento.




Maria de Noronha
É a mulher-anjo dos românticos (fisicamente é fraca e frágil; psicologicamente é muito forte).
 Nobre, de inteligência precoce, é muito culta, intuitiva e perspicaz. Muito curiosa, quer saber tudo... É uma romântica: é nacionalista, idealista, sonhadora, fantasiosa, patriota, crente em agoiros e uma sebastianista.
É a vitima inocente de toda a situação e acaba por morrer fisicamente, tocada pela vergonha de se sentir filha ilegítima (está tuberculosa).

          
D. João de Portugal
Nobre cavaleiro, está ausente fisicamente durante o I e o II acto da peça. Contudo, está sempre presente na memória e palavras de Telmo, na consciência de Madalena, nas palavras de Manuel e na intuição de Maria.
É sempre lembrado como patriota, digno, honrado, forte, fiel ao seu rei; quando regressa, na pele do Romeiro é austero e misterioso, representa um destino cruel, é implacável, destrói uma família e a sua felicidade, mas acaba por ser, também ele, vitima desse destino. Resta-lhe então a solidão, o vazio e a certeza de que ele já só faz parte do mundo dos mortos (é “ninguém”; madalena não o reconhece; Telmo preferia que ele não tivesse voltado pois Maria ocupou o seu lugar no coração do velho escudeiro):
D. João é uma figura simbólica: representa o passado, a época gloriosa dos descobrimentos; representa também o presente, a pátria morta e sem identidade na mão dos espanhóis / e é a imagem da pátria cativa.


Telmo Pais
É o velho aio, não é nobre, contudo a sua convivência com as famílias nobres, “deu-lhe” todas as características de um nobre (postura, fala, educação, cultura...).
É o confidente de Madalena e de Maria.  Fiel, dedicado, é o elo e ligação entre as duas famílias (os dois maridos de Madalena), é a chama viva do passado que alimenta os terrores de Madalena.
É muito critico, cria juízos de valor e é através dele que  consciência das personagens fragmentada que vive num profundo conflito interior pois sente-se dividido entre D, João e Maria, não sabendo o que fazer.
É um sebastianistas e sofre muito pela sua lealdade.




Frei Jorge
Irmão de Manuel de Sousa, representa a autoridade de Igreja. É também confidente de Madalena, pois é a ele que ela confessa o seu “Terrível” pecado: amou Manuel de Sousa ainda D. João era vivo. É um uma figura moderadora, que procura harmonizar o conflito, modera os sentimentos trágicos. Acompanha sempre a família, é conciliador, pacificador e impõe uma certa racionalidade, procurando manter o equilíbrio no meio de uma família angustiada e desfeita.
  
                                 (Vídeo sobre a obra)


terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Atos
 ilocutórios
Objetivo ilocutório
Marcas linguísticas predominantes
Exemplos





assertivos
Expressar a relação entre o locutor e a verdade do enunciado (o locutor acredita que aquilo que diz é verdade, mas a sua asserção pode ser submetida ao teste do verdadeiro ou falso).

§Asserção simples (afirmativa / negativa).
§Verbos assertivos (acreditar, admitir, afirmar, considerar, confessar, discordar, negar, responder…).
§Expressões verbais (achar possível / necessário; colocar a hipótese de…).

“Eu vi o general sair de casa.”
(ato II, p.82 – Rita)

“Todos aqui sabemos quem a senhora é, e nenhum de nós é cego ou surdo…”
(ato II, p.104 – Rita)







directivos

Tentar que o interlocutor realize o acto verbal ou não verbal referido no
enunciado pelo locutor.
Expressão de ordens, conselhos, pedidos, sugestões, avisos, instruções… sobretudo através de:
§frases de tipo imperativo.
§frases de tipo interrogativo.
§verbos diretivos (avisar, aconselhar, perguntar, pedir, convidar, exigir, mandar, implorar, ordenar, proibir…).
§expressões volitivas (querer que + verbo).
§frases interrogativas:
– simples;
– complexas, dominadas por verbos de inquirição (perguntar, inquirir);
– contendo negação, mas orientadas para valor positivo.


“Olha lá, Vicente: como consegues tu inspirar a confiança desta gente?”
(ato I, p.25 – 2º Polícia)

“Quero que se torne conhecido para os lados do Rato…”
(ato I, p.38 – D. Miguel)

“E, agora, meus senhores, ao trabalho!”
(ato I, p.73 – D. Miguel)






compromissivos
Comprometer o locutor a realizar, no
futuro, o ato expresso no enunciado.
Enquanto os atos diretivos colocam o
interlocutor sob uma obrigação, os
compromissivos exercem essa
obrigatoriedade sobre o locutor.

§Verbos compromissivos (garantir, jurar, prometer, tencionar, assegurar, afiançar, comprometer-se…).
§Frases simples no futuro do indicativo ou seus substitutos, como o presente do indicativo. Ex.: “Eu vou lá.”
§Frases complexas do tipo condição-consequência (quando esta última implica o comprometimento do locutor). Ex.:“Se não vieres, não almoço.”
§Fórmulas de despedida (que impliquem comprometimentos). Ex.: “Até logo.”

“Agora – ou mais tarde, como chefe de polícia – é o que farei…”
(Acto I, p.38 – Vicente)

“Se cumprir esta missão com o zelo que lhe impõe o seu dever e a gravidade da situação, prometo-lhe que não acabará os seus dias a pedir.”
(Ato I, p.38 – D. Miguel)




expressivos
Exprimir estados psicológicos do locutor face ao que enuncia, ao interlocutor, ao universo de referência.
§Frases de tipo exclamativo.
§Verbos expressivos (felicitar, agradecer, compadecer-se, deplorar, congratular-se, desculpar-se, lamentar…).
§Expressões verbais (achar bem/mal, gostar muito/pouco, …).
§Expressões exclamativas com adjetivos valorativos, advérbios e verbos afetivos. Ex.: “Gosto tanto desta música!”


“Está um lindo dia!”
(ato I, p.56 – Beresford)

“Não queremos pobres à nossa porta!”
(Ato II, p.107 – Manuel)



declarativos
Alterar uma realidade, através do
próprio enunciado, graças ao poder /autoridade institucional ou
individual do locutor.

§Verbos declarativos / performativos (declarar, nomear, batizar, abrir, encerrar, terminar).

“E por isso havemos por bem ordenar: (…) Que no domingo (…) se cante, ou reze…”
(ato II, p. 98 – Pr. Sousa)

“Esta praga lhe rogo eu…”
(Ato II, p.140 – Matilde)